Eu agora tenho 30 anos. Eu nunca me imaginei com 30 anos. Quando eu digo
isso, quase sempre ouço "cruzes!" em resposta, porque as pessoas
costumam achar que eu estou dizendo que achava que ia morrer antes dos
30. Eu só tô dizendo que nunca consegui me imaginar com essa idade. Eu
nunca imaginei onde queria estar aos 30 anos e cheguei aqui tão rápido
que o caminho pareceu curto demais.
Eu sei dizer que aos 30 anos eu estou feliz, embora eu sempre olhe de
rabo de olho quando uso a palavra felicidade, sempre pronta pra explicar
que, veja bem, não estou morando num filme.
Sei dizer que estou satisfeita com tudo o que tenho e tranquila com tudo
o que não tenho, mas isso não torna a data mais doce porque, veja bem,
eu também estava satisfeita com tudo o que tinha e tranquila com tudo o
que não tinha aos 29. E aos 28 também, mais ou menos. E além disso, o
número 30 parece tão duro.
Aos 23, 25, 28 ou 30 eu continuo levando tombos em público e chegando no
trabalho com batom no dente. A minha saia continua levantando com o
vento e eu continuo passando tempo demais na Internet. Eu continuo
comendo em horas impróprias e trapaceando na contagem de
exercícios no pilates.
Aos 30 anos, eu sou mais ou menos quem eu era há dez anos ou cinco,
talvez a diferença seja só que eu gosto de ser essa pessoa e não quero
ser mais ninguém além de mim. Estar confortável dentro de mim e onde eu
estou é o melhor que eu podia ter.
...
Tive um aniversário lindo, com amigos, e-mails lindos, presentes. Não foi nada mal fazer 30 anos, nada mal mesmo.